terça-feira, 12 de outubro de 2010

A bipolaridade de VIPs

Vencedor do Redentor de Melhor filme do Festival do Rio 2010, VIPs, de Toniko Melo estava sendo considerado o Prenda-me se for capaz brasileiro, mas o filme é, na verdade, um thriller muito mais preocupado em investigar as motivações psicológicas de seu indivíduo do que acompanhar suas armações emblemáticas, como no filme de Spielberg.

Protagonizado por um (cada vez mais) inspirado Wagner Moura, o filme conta a impressionante história real de Marcelo Nascimento da Rocha, piloto que se faz passar pelo dono da companhia aérea Gol. Baseado no livro Vips – Histórias reais de um mentiroso, de Mariana Caltabiano (que apresentou no Festival um documentário sobre o mesmo tema), VIPs vai radiografando o percurso da ambiguidade de Marcelo, que teve uma família decadente – a atriz Gisele Fróes dá vida a mãe do protagonista, em uma atuação memorável, não à toa premiada como Melhor Coadjuvante no Festival – que o desestimulava em suas ambições de vida. Até que ele decide partir para o Centro-Oeste, onde aprende a pilotar, passando a trabalhar para um traficante argentino. Daí sua vida vira uma mistura de trapaça, acaso e sorte.

Toniko centra sua trama mais na relação do protagonista com sua (falta de) identidade e não parece preocupado em tematizar suas estripulias ilegais. Com isso, o filme torna-se mais denso do que o esperado e isso não é um demérito. Talvez careça de mais estilismo para implementar melhor essa opção narrativa mas a história rende bem, com um apuro técnico muito bom, o que aliás é a marca da O2, produtora deFernando Meirelles, que assina a produção. A trilha de Fernando Pinto também é muito bem feita e até dissonante do que vem sendo feito em trilhas no cinema nacional.

No fim, temos a sensação de termos participado de uma sessão psicanalítica de um homem em conflito consigo mesmo, conflito este que se estende pela narrativa que oscila entre a estética convencional e o discurso notadamente psíquico. O filme acaba e esse conflito também contamina o espectador na avaliação do que acabou de assistir. Será que o filme é transcendental ou bipolar?

Dica de Música: "Jesus to a child" (George Michael)

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