Bróder tinha tudo para ser mais um daqueles filmes do chamado “favela movie” que tem infestado o mercado nacional, desde o estouro com o êxito definitivo de Cidade de Deus, de Fernando Meireles. Confesso até que fui assisti-lo na sessão hour-concours do Festival do Rio, com certa preguiça, mas me surpreendi com a contundência conseguida pelo o estreante em longas-metragens Jeferson De.
O filme acompanha um dia na vida de três amigos de realidades de vida distintas, que se encontram na região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, onde nasceram e cresceram. O ator Caio Blat, em interpretação carnívora, dá vida a Macu, que mora com a mãe Sônia (Cássia Kiss, sempre muito competente), comemora 23 anos e recebe a visita de dois amigos de infância, o bem sucedido e milionário jogador de futebol Jaiminho (Jonathan Haagensen), ainda muito ligado às sua raízes de periferia e na iminência de ser escalado para seleção brasileira, e o pai de família Pibe (Sílvio Guindane), que apesar de levar uma vida muito difícil, não mora mais na região.
A trama se concentra nesse encontro, num mesmo dia, que acontece entre os três. E é preciso de apenas um dia para que se configure as diferentes personalidades e posicionamentos de vida de cada um deles. Macu é o pilar do conflito que emerge nesta inter-relação por se complicar num dilema em que polariza a importância dessa amizade com os ditames do crime. Jaiminho se posiciona como a emoção instintiva das consequências desta sua visita ao lugar de origem, e Pibe é o suporte racional do encontro.
De, que também é o roteirista do longa, se vale desta batida perspectiva para realçar as incongruências sociais que gravitam num universo tão marginalizado como o Capão Redondo, que vira uma espécie de metáfora regional de todo o gueto periférico do país. Mas o grande acerto de De está na relativização que ele faz do tema. Não há espaço para glamourização ou tematização. Sua direção evoca uma base de crônica cotidiana de um universo, trazendo assim bastante credibilidade à história contada. Com meia hora de filme, já estamos inseridos até nos dilemas éticos de cada personagem. A narrativa trafega por esse mérito inteligentemente deixando para o expectador a primazia do julgamento.
Bróder vem sendo muito premiado em sua carreira pré-lançamento. De Gramado a Berlim, todos são unânimes em exaltar a propriedade com que o filme estabelece seu discurso. O cineasta Jeferson De é conhecido pela sua politização na luta pela representação do negro no cinema nacional; e com esse seu filme de estreia – e até por ter dado o protagonista de seu filme, a priori concebido para um ator negro, ao ator Caio Blat, provando que seu discurso está acima de cartilhas étnicas – ele prova que existe consistência por trás de qualquer ranço panfletário.
Dica de Música: "Mais que nada" (Sérgio Mendes)
O filme acompanha um dia na vida de três amigos de realidades de vida distintas, que se encontram na região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, onde nasceram e cresceram. O ator Caio Blat, em interpretação carnívora, dá vida a Macu, que mora com a mãe Sônia (Cássia Kiss, sempre muito competente), comemora 23 anos e recebe a visita de dois amigos de infância, o bem sucedido e milionário jogador de futebol Jaiminho (Jonathan Haagensen), ainda muito ligado às sua raízes de periferia e na iminência de ser escalado para seleção brasileira, e o pai de família Pibe (Sílvio Guindane), que apesar de levar uma vida muito difícil, não mora mais na região.
A trama se concentra nesse encontro, num mesmo dia, que acontece entre os três. E é preciso de apenas um dia para que se configure as diferentes personalidades e posicionamentos de vida de cada um deles. Macu é o pilar do conflito que emerge nesta inter-relação por se complicar num dilema em que polariza a importância dessa amizade com os ditames do crime. Jaiminho se posiciona como a emoção instintiva das consequências desta sua visita ao lugar de origem, e Pibe é o suporte racional do encontro.
De, que também é o roteirista do longa, se vale desta batida perspectiva para realçar as incongruências sociais que gravitam num universo tão marginalizado como o Capão Redondo, que vira uma espécie de metáfora regional de todo o gueto periférico do país. Mas o grande acerto de De está na relativização que ele faz do tema. Não há espaço para glamourização ou tematização. Sua direção evoca uma base de crônica cotidiana de um universo, trazendo assim bastante credibilidade à história contada. Com meia hora de filme, já estamos inseridos até nos dilemas éticos de cada personagem. A narrativa trafega por esse mérito inteligentemente deixando para o expectador a primazia do julgamento.
Bróder vem sendo muito premiado em sua carreira pré-lançamento. De Gramado a Berlim, todos são unânimes em exaltar a propriedade com que o filme estabelece seu discurso. O cineasta Jeferson De é conhecido pela sua politização na luta pela representação do negro no cinema nacional; e com esse seu filme de estreia – e até por ter dado o protagonista de seu filme, a priori concebido para um ator negro, ao ator Caio Blat, provando que seu discurso está acima de cartilhas étnicas – ele prova que existe consistência por trás de qualquer ranço panfletário.
Dica de Música: "Mais que nada" (Sérgio Mendes)
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