Foi debaixo de uma verdadeira erupção crítica que o cineasta Fernando Meirelles lançou, há quase dez anos, a radiografia mais completa da embriologia social do crime no Rio de Janeiro com "Cidade de Deus". Uma boa parcela da opinião pública o acusou de usar o filme como ferramenta de estilização da pobreza, usando argumentos (falhos) de que a natureza publicitária de Meirelles olhava para aquela mazela social, não como um universo a ser discutido mas como um produto a ser explorado. A adesão maciça do público e o reconhecimento internacional (assim como de alguns representantes importantes da imprensa daqui), acabaram por consagrar o filme ao panteão da história do cinema, contrariando qualquer aversão midiática.
"5x Favela, Agora Por Nós Mesmos", já chega com esse reconhecimento atestado. Trata-se de uma revisão do filme original, feito há cerca de 50 anos, dirigido por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges, jovens politizados de classe média que arregaçaram as mangas juvenis e produziram o que acabou se tornando um dos símbolos do panorama sócio-político do Cinema Novo. O filme de 1961 assistido hoje, nos passa a sensação de que envelheceu mal, principalmente pela ingenuidade. Mas é sintomática a percepção de que junto a essa nova visão de 2010, que como o título diz, é “por nós mesmos”, ou seja, uma visão doméstica de um gueto que se vê e é visto como gueto, os dois filmes são não só complementares como são sínteses de que a realidade urbana do país tornou-se patológica em seu próprio território.
Com preciosa produção de Cacá e sua esposa Renata de Almeida, o filme é dirigido por um grupo de jovens que, conhecedores de e da causa impressa na tela, que fazem refletir, com uma intimidade admirável com o veículo, o cotidiano daquilo que é vivido. Separado em cinco episódios, as tramas dialogam entre si na verdade com que é personificada, mas não deixam de denotar suas personalidades, vistas separadamente.
Fonte de renda, de Manaíra Carneiro e Wagner Novais, desconstrói o sentido de fábula social ao narrar as desventuras de um jovem para se manter na universidade.
Arroz com feijão, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, se vale do lirismo infantil para mimetizar seu discurso.
Concerto para Violino, de Luciano Vidigal, é menos inventivo na forma (há o previsível uso do grafismo recorrente nos filmes do gênero), mas bem contundente no conteúdo, ao retratar a realidade do tráfico partindo de uma trama saudosista, onde três amigos de infância se posicionam em esferas distintas no mundo adulto.
Deixa voar, de Cadu Barcelos, explora as extremidades que existem dentro do próprio território dos que vive a margem; e finalizando vem o solar Acende a luz de Luciana Bezerra, o mais personalista dos cinco, onde a diretora absorve toda a despretensão da comédia de Vaudeville para compor um episódio em que o morro se mostra condescendente às trivialidades de qualquer organização social do mundo.
São cinco histórias que trazem como principal reflexão o seu sentido de identidade. E uma reflexão tão certeira, quanto o estilismo de Fernando Meirelles, em 2002, afinal, por exemplo, para entendermos as novas configurações sociais da Itália pós-Segunda Guerra, não foram necessários que as vítimas empunhassem suas câmeras. Rossellini e De Sica foram alguns que nos externaram o neo-realismo italiano com muita propriedade. Então, não provém da classe social de um diretor a sinceridade de uma obra. O capricho estético de uns ou o berço sofrido de outros só traduzem talvez um estilo. O resultado vem da forma como a questão é encarada.
"5X Favela, Agora por nós mesmos" é um êxito pela conjunção da verdade com a inteligência. E da noção de que essa verdade depende de como a realidade é vista, e não idealizada. Seja dos casebres do Vidigal ou das janelas retangulares dos Jardins.
"5x Favela, Agora Por Nós Mesmos", já chega com esse reconhecimento atestado. Trata-se de uma revisão do filme original, feito há cerca de 50 anos, dirigido por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges, jovens politizados de classe média que arregaçaram as mangas juvenis e produziram o que acabou se tornando um dos símbolos do panorama sócio-político do Cinema Novo. O filme de 1961 assistido hoje, nos passa a sensação de que envelheceu mal, principalmente pela ingenuidade. Mas é sintomática a percepção de que junto a essa nova visão de 2010, que como o título diz, é “por nós mesmos”, ou seja, uma visão doméstica de um gueto que se vê e é visto como gueto, os dois filmes são não só complementares como são sínteses de que a realidade urbana do país tornou-se patológica em seu próprio território.
Com preciosa produção de Cacá e sua esposa Renata de Almeida, o filme é dirigido por um grupo de jovens que, conhecedores de e da causa impressa na tela, que fazem refletir, com uma intimidade admirável com o veículo, o cotidiano daquilo que é vivido. Separado em cinco episódios, as tramas dialogam entre si na verdade com que é personificada, mas não deixam de denotar suas personalidades, vistas separadamente.
Fonte de renda, de Manaíra Carneiro e Wagner Novais, desconstrói o sentido de fábula social ao narrar as desventuras de um jovem para se manter na universidade.
Arroz com feijão, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, se vale do lirismo infantil para mimetizar seu discurso.
Concerto para Violino, de Luciano Vidigal, é menos inventivo na forma (há o previsível uso do grafismo recorrente nos filmes do gênero), mas bem contundente no conteúdo, ao retratar a realidade do tráfico partindo de uma trama saudosista, onde três amigos de infância se posicionam em esferas distintas no mundo adulto.
Deixa voar, de Cadu Barcelos, explora as extremidades que existem dentro do próprio território dos que vive a margem; e finalizando vem o solar Acende a luz de Luciana Bezerra, o mais personalista dos cinco, onde a diretora absorve toda a despretensão da comédia de Vaudeville para compor um episódio em que o morro se mostra condescendente às trivialidades de qualquer organização social do mundo.
São cinco histórias que trazem como principal reflexão o seu sentido de identidade. E uma reflexão tão certeira, quanto o estilismo de Fernando Meirelles, em 2002, afinal, por exemplo, para entendermos as novas configurações sociais da Itália pós-Segunda Guerra, não foram necessários que as vítimas empunhassem suas câmeras. Rossellini e De Sica foram alguns que nos externaram o neo-realismo italiano com muita propriedade. Então, não provém da classe social de um diretor a sinceridade de uma obra. O capricho estético de uns ou o berço sofrido de outros só traduzem talvez um estilo. O resultado vem da forma como a questão é encarada.
"5X Favela, Agora por nós mesmos" é um êxito pela conjunção da verdade com a inteligência. E da noção de que essa verdade depende de como a realidade é vista, e não idealizada. Seja dos casebres do Vidigal ou das janelas retangulares dos Jardins.
Dica de Música: "Muito pouco" (Moska)
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