quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Nosso Lar e a síndrome de Paulo Coelho

Dar forma a uma boa intenção literária requer um exercício de desprendimento pois o audiovisual já impõe muitas idéias para querer também impor lições. Quando isso acontece, o artificialismo didático acaba por enfraquecer um resultado.

Esta aí o grande problema do mais novo fenômeno de bilheteria do cinema nacional Nosso Lar, de Wagner de Assis. Baseado em livro psicografado por Chico Xavier, o filme acompanha a trajetória de redenção espiritual de André Luiz, um médico que teve uma vida errônea de excessos e que quando morre, vê-se preso a uma dimensão chamada umbral, espécie de purgatório de almas, onde passa a rever toda a sua vida pelas vias do arrependimento. Essa desventura é apresentada de forma tão reverente à matriz literária que torna-se banal em suas próprias pretensões

O filme, de forma geral, evoca a síndrome de Paulo Coelho: uma obra recheada de boas intenções, mas que se propõe messiânica demais para dialogar com o espectador, tornando essa inter-relação um tanto infantilizada. O diretor – do fraquíssimo A cartomante - também não ajuda, deslumbrado demais com os efeitos especiais internacionais que ilustram a história. Efeitos esses que só comprovam essa infantilização conceitual do filme: a direção de arte mais parece com o mobiliário infantil da Casa da Barbie e pouco acrescenta ao enredo. E ainda não conseguiu estabelecer uma unidade cênica verossímil de seus atores, uma vez que o nível é bem irregular, tendo na atuação de seu protagonista, o ator Renato Pietro, sem um pingo de carisma, seu exemplo mais gritante. Aos que conseguirem dissociá-lo de sua premissa religiosa e analisá-lo apenas como produto cinematográfico verá que o resultado mais parece àqueles vídeos institucionais para conferências espíritas e não um filme ao qual se agregue valores de uma crença

Ainda que conte com eficiente trilha de Philip Glass, que fez trabalhos memoráveis em filmes, como a obra-prima As Horas, Nosso lar só reforça sua incapacidade de dimensionar sua mensagem (ou seria sermão?) para além da banalidade evangelizadora. Como se o espectador, para refletir, precisasse de uma cartilha e não de uma análise do que vê. Ora, mas não é assim que a obra de Paulo Coelho é absorvida?

Dica de Música: "Cruisin" (Gwyneth Paltrow)

Rio + Cinema

Esse ano, estou trabalhando na produção do Festival do Rio e para tal, venho acompanhando a maioria das premiéres dos filmes nacionais concorrentes ao Redentor 2010. Dentre eles, os aguardados "Vips", com Wagner Moura, "Como esquecer", com Ana Paula Arósio e "Elvis e Madona", com Simone Spoladore. Breve postarei aqui as críticas e comentários do que rolou de mais interessante neste período em que o Rio respira cinema...

Dica de Música: "Ela faz cinema" (Chico Buarque)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Renovação reveladora

Nesses revivals de filmes oitentistas, um dos clássicos da "Sessão da Tarde" não poderia ficar de fora. "Karatê Kid" é revisitado com produção de Will Smith e protagonizado pelo seu filho, Jaden Smith, que mantém em seu DNA o carisma emblemático do pai. Com direção de Harald Zwart ("Agente teen"), o remake, que se propõe atualizar o correto filme original, mostra-se frágil em sua sustentação dramática (as analogias do treinamento e o drama pessoal do velho treinador vivido por um Jack Chan até inspirado são bem rasos e inconsistentes) e é salvo justamente pelo saudosismo catártico que o filme original provoca, principalmente nas cenas finais de luta, em que o protagonista vence pelo batido viés da superação. Não é um filme horroroso, mas trata-se de um exemplo de como a atualização de um (quase) clássico pode muitas vezes expor o quanto o cinema regrediu até mesmo na seara dos blockbuster... E, neste caso, não dá nem para falar para ver sem exigir muito pois qualquer um que tomava Todynho no sofá, assistindo a "Sessão da Tarde" nas décadas de 80 e 90, sabe do que estou falando...
Dica de Música: "Deve ser amor" (Kid Abelha)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Consagração e retórica no Festival de Veneza 2010

E a 67ª edição do tradicional Festival de Veneza manteve a alcunha polemista que tanto fez História ao longo dos anos e o coloca como importante plataforma do surgimento e/ou oxigenação do cinema mundial. Com um júri presidido por Quentin Tarantino (o que prometia uma premiação, no mínino, personalista) o Leão de Ouro (prêmio máximo do Festival) caiu nas mãos de Sofia Coppola, por seu Somewhere. Prêmio este, muito comentado uma vez que os dois já foram namorados e a crítica, que se dividiu no tocante a relevância do filme em si, levantou a hipótese de favorecimento. Para completar, Tarantino ainda inventou um segundo Leão de Ouro especial, este pelo conjunto da obra, para o também norte-americano Monte Hellman, que concorria com o (taxado) excessivamente experimental Road to Nowhere. Hellman foi um dos mentores de Quentin, no início da carreira.
Cabe dizer que todo festival que se propõe a personalizar seu júri em cada edição, está sujeito a esse tipo de revés. Esse ano, em Cannes, o cineasta Tim Burton foi o convidado para presidir o júri e também rendeu muita polêmica ao premiar um filme tailandês notadamente hermético. Segundo Tarantino, o filme de Sofia foi uma unanimidade entre o restante do júri e “retrata perfeitamente o lado superficial da cidade de Los Angeles”. E os Estados Unidos continuou expressivo ganhado o prêmio de melhor ator para Vicent Gallo, protagonista do drama polonês Essential Killing. O polêmico ator americano, que diz não freqüentar tapetes-vermelhos, e, no fundo, sempre chamando a atenção para si (quem não se lembra de seu The Brown Bunny, que dirigiu e protagonizou, onde tem a histórica cena de felação explícita com a atriz Chloe Sevigny), não compareceu para pegar seu Leão.
O prêmio de interpretação feminina foi para a francesa Ariane Labed, pelo filme “Attemberg” da grega Athina Rachel Tsangari. O comentado Black Swan de Darren Aronofsky, esperado filme das bailarinas rivais, estrelado por Natalie Portman, saiu com o prêmio Marcello Mastroianni de intérpretes novatos para Mila Kunis (se bem que ela não é uma estreante, tendo já feito até blockbusters como O livro de Eli).
Óbvio que muitos filmes foram ignorados, inclusive os quatro representantes italianos da Mostra. A Solidão dos Números Primos, filme baseado em livro homônimo já lançado aqui no Brasil, que por sinal sempre me chamou muita atenção, tanto pelo intrigante título quanto pela abordagem de seu argumento, era uma promessa italiana, mas passou em branco.
O Festival também notabilizou alguns filmes inéditos que passaram fora de competição como a estréia internacional do diretor Andrucha Waddington, com Lope, filme de época que recria livremente parte da juventude do poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562 – 1635). Andrucha foi muito aplaudido em Veneza, apesar da imprensa espanhola não ter gostado tanto. Até pelo fato de ser um brasileiro dirigindo uma história puramente espanhola. Bem Affleck, depois do ótimo Medo da Verdade, também levou a Veneza seu segundo filme como diretor The Town (que no Brasil chamará Atração Perigosa), onde também atua, numa trama sobre um grupo de ladrões de banco. Veneza costuma dar sorte ao ator e diretor, uma vez que foi nesse mesmo Festival que ele ganhou um inesperado prêmio de melhor ator por Hollywoodland.
Enfim, foi um quase turbulento Festival de Veneza que, acima de desacordos críticos e distinções estéticas, confirmou o perfil da mostra à constante discussão audiovisual... E isso, nem todos conseguem...
Dica de Música: "Quelqu'un M'a Dit" (Carla Bruni)

I LOVE NY!!!


Não sou lá um apreciador de Hip Hop, mas tenho uma queda inteira pela Black Music... Esse clipe da gracinha Alicia Keys e do rapper Jay-Z (mais conhecido como marido - !!! - de Beyoncé) está aqui principalmente pela belíssima homenagem que faz a cidade de New York. Para os que, como eu, são apaixonados pela atmosfera, música, esquizofrenia, caos, possibilidades e afins desta cidade, o clipe é um banquete aos olhos... Muito bem fotografado (acabou de ganhar da MTV o VMA 2010 de melhor fotografia), nem a música atrapalha, pois trata-se de uma baladinha pulsante que consegue compreender toda a efervescência novaiorquina... Sabe àquele lugar que você ama sem nunca ter pisado ainda? É por aí...

O refrão diz tudo:

Em Nova York,
Selva de pedra onde Sonhos são realizados,
Não há nada que você não possa fazer,
Agora você está em Nova York,
Essas ruas vão fazer você se sentir novo em folha,
As luzes vão te inspirar,
Salva De Palmas para Nova York, Nova York, Nova York

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vale a pena esperar por Sofia Coppola


“Oh, se eu ao menos pudesse ter uma vida de sensações em vez de uma vida de pensamentos.”
O clamor definitivo do poeta inglês John Keats parece ser a tônica que move o delicado universo cinematográfico da cineasta Sofia Coppola. Seus filmes são inteiramente sensoriais, deixando ironias, discursos ou até mapeamentos históricos soltos em uma narrativa bem mais preocupada em buscar uma assimilação pessoal, como se persuadisse uma intimidade quase psíquica com o espectador. Foi assim em sua aclamada estreia, no intenso As Virgens Suicidas (Virgin Suicides, 1999), adaptação do livro homônimo, onde relativizou, com impressionante apuro narrativo para uma iniciante, as incongruências que existem em quem opta por decidir entre a vida e a morte. Essa interseção suicida nos é passada de forma tão sutil que extraímos beleza de um tema tão mórbido. E o filme ainda termina com a sensação de ser um ensaio sobre a vida. Um marco também foi sua intrigante e deliciosa trilha, com a dupla canadense Air.
Mas sua consagração mesmo veio com o intimista Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003), merecidíssimo ganhador do Oscar de Melhor Roteiro, onde Sofia não só consegue tematizar um estado de espírito, como junto com outras obras-primas como Closer (2004), Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), Antes do Pôr do Sol (2004) e Two Lovers (2008), redefinir o gênero romance na seara hollywoodiana no início dos anos 2000. O improvável casal formado por Bill Murray e Scarlett Johansson passa por um interessante processo de construção de intimidade, onde gravitam questões sobre inadequação, solidão e passionalidade de forma tão sutil quanto orgânica.
Apesar de ter enfrentado muitas críticas quando atuou como atriz no clássico O Poderoso Chefão, do pai Francis Ford Coppola, a cineasta, depois de ser quase uma unanimidade em seus dois primeiros filmes, enfrentou mais um revés com o belo Maria Antonieta (Marie Antoniette, 2006), que chegou a ser vaiado em Cannes. De fato, nunca compreendi essa rejeição tão acentuada, principalmente pela inventividade que ela imprimiu ao filme como um todo. Não precisa ser muito inteligente para perceber que a intenção ali não era fazer uma análise política “modernosa”, e sim capturar a essência reacionária da personalidade retratada. Inclusive a sustentação da trama de seu filme é espertamente pautada nisso; é na desconstrução de um mito, sendo quase uma expressionista em seu universo, que o filme revela mais que uma biografada, mas sim, um importante signo da História Moderna.
Como talento não se discute mesmo, em seu mais novo filme, Somewhere, que fez bonito em sua primeira exibição no Festival de Veneza há poucos dias, a diretora norte-americana mira sua lente (de fortes traços autobiográficos) para a trajetória de um astro hollywoodiano que mora em um hotel de Los Angeles – o famoso Chateau Marmont, onde, em 1982, morreu o ator John Belushi por overdose de heroína. É na relação que ele resgata com sua filha que Sofia pauta o filme. O trailer, com notável música de Julio Casablancas, do The Strokes, já comprova que o filme é mesmo da “grife” Sofia Coppola, pela singeleza das imagens e possibilidades comedidas das palavras. Ou seja, ela consegue aquilo que Keats almejava há mais de 100 anos atrás.

Dica de Música: "42" (Coldplay)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Stallone transfere sua decadência para a América

A reunião brucutu que Sylvester Stallone promove em seu “Os mercenários” se revela como um retrato da face decadente que as forças icônicas americanas, que nos anos 80 foram instrumentos de auto-afirmação política, representaram cinematograficamente. Esqueça a trama, que nada mais é que um arremedo de 90% dos filmes do “Domingo Maior” e embarque na ironia discursiva de seu contexto ou apenas divirta-se com os conhecidos absurdos do produto na tela. Stallone esbanja preparo físico, mas um ar de cansaço persegue cada quadro de suas cenas, mas o que não faltam são expoentes da categoria para manter o ritmo de pancadaria que nutre a trama (!): Dolph Lundgren (surpreendente como uma nova versão de Mickey Rourke ressuscitado), o próprio Rourke (que parece ter se divertido no set), Eric Roberts (fazendo o de sempre...), Jet Li (o descanso cômico da barulhada), Jason Stathan (o personagem mais elaborado e bem defendido do filme), Randy Couture, Gary Daniels e Steve Austin (lutadores atores que justificam o público a qual o filme é destinado). Há ainda uma divertida participação de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, que talvez sintetize muito o “espírito” do filme de (tentar) ri de si mesmo.
A história fala algo de um recrutamento feito pelo personagem de Willis aos tais mercenários (Sylvester e Cia) para que se infiltrem numa ilha latina e matem seu ditador, até que descobrem que existem muito mais intrigas no lugar do que o serviço contratado poderia supor. Dentre eles a personagem da atriz brasileira Gisele Itié, aliada do grupo, mas inteiramente apegada a sua terra.
A simplicidade do argumento se expande ao roteiro, que rende cenas absurdamente integradas á histeria dos filmes de ação dos anos 80, como as rasas motivações de seus heróis, o exército de um homem só e a banalização das mortes. Visto como uma simples diversão escapista, o filme é bom, dentro de suas próprias limitações. Fora que é divertido assistir a região de Guaratiba, aqui no Rio de Janeiro, maquiada para parecer com Cuba comunista. Mas deixando-se contaminar um pouquinho pelo cinismo do mundo contemporâneo, asseguro que “Os Mercenários” é, assim como o notável “Gran Torino”, uma alegoria de uma América falida política e moralmente que busca se reerguer. Neste caso, com muito barulho...

Dica de Música: "Reza Vela" (O Rappa)

Se a cidade é de Deus, a visão é dos homens

Foi debaixo de uma verdadeira erupção crítica que o cineasta Fernando Meirelles lançou, há quase dez anos, a radiografia mais completa da embriologia social do crime no Rio de Janeiro com "Cidade de Deus". Uma boa parcela da opinião pública o acusou de usar o filme como ferramenta de estilização da pobreza, usando argumentos (falhos) de que a natureza publicitária de Meirelles olhava para aquela mazela social, não como um universo a ser discutido mas como um produto a ser explorado. A adesão maciça do público e o reconhecimento internacional (assim como de alguns representantes importantes da imprensa daqui), acabaram por consagrar o filme ao panteão da história do cinema, contrariando qualquer aversão midiática.
"5x Favela, Agora Por Nós Mesmos", já chega com esse reconhecimento atestado. Trata-se de uma revisão do filme original, feito há cerca de 50 anos, dirigido por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges, jovens politizados de classe média que arregaçaram as mangas juvenis e produziram o que acabou se tornando um dos símbolos do panorama sócio-político do Cinema Novo. O filme de 1961 assistido hoje, nos passa a sensação de que envelheceu mal, principalmente pela ingenuidade. Mas é sintomática a percepção de que junto a essa nova visão de 2010, que como o título diz, é “por nós mesmos”, ou seja, uma visão doméstica de um gueto que se vê e é visto como gueto, os dois filmes são não só complementares como são sínteses de que a realidade urbana do país tornou-se patológica em seu próprio território.
Com preciosa produção de Cacá e sua esposa Renata de Almeida, o filme é dirigido por um grupo de jovens que, conhecedores de e da causa impressa na tela, que fazem refletir, com uma intimidade admirável com o veículo, o cotidiano daquilo que é vivido. Separado em cinco episódios, as tramas dialogam entre si na verdade com que é personificada, mas não deixam de denotar suas personalidades, vistas separadamente.
Fonte de renda, de Manaíra Carneiro e Wagner Novais, desconstrói o sentido de fábula social ao narrar as desventuras de um jovem para se manter na universidade.
Arroz com feijão, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, se vale do lirismo infantil para mimetizar seu discurso.
Concerto para Violino, de Luciano Vidigal, é menos inventivo na forma (há o previsível uso do grafismo recorrente nos filmes do gênero), mas bem contundente no conteúdo, ao retratar a realidade do tráfico partindo de uma trama saudosista, onde três amigos de infância se posicionam em esferas distintas no mundo adulto.
Deixa voar, de Cadu Barcelos, explora as extremidades que existem dentro do próprio território dos que vive a margem; e finalizando vem o solar Acende a luz de Luciana Bezerra, o mais personalista dos cinco, onde a diretora absorve toda a despretensão da comédia de Vaudeville para compor um episódio em que o morro se mostra condescendente às trivialidades de qualquer organização social do mundo.
São cinco histórias que trazem como principal reflexão o seu sentido de identidade. E uma reflexão tão certeira, quanto o estilismo de Fernando Meirelles, em 2002, afinal, por exemplo, para entendermos as novas configurações sociais da Itália pós-Segunda Guerra, não foram necessários que as vítimas empunhassem suas câmeras. Rossellini e De Sica foram alguns que nos externaram o neo-realismo italiano com muita propriedade. Então, não provém da classe social de um diretor a sinceridade de uma obra. O capricho estético de uns ou o berço sofrido de outros só traduzem talvez um estilo. O resultado vem da forma como a questão é encarada.
"5X Favela, Agora por nós mesmos" é um êxito pela conjunção da verdade com a inteligência. E da noção de que essa verdade depende de como a realidade é vista, e não idealizada. Seja dos casebres do Vidigal ou das janelas retangulares dos Jardins.

Dica de Música: "Muito pouco" (Moska)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Minha Novela


"Desperate Housewives" está estreando sua sétima temporada após uma trajetória em que teve de se reinventar para sobreviver, pelo menos criativamente (pois sua audiência na TV americana é estável). Já aconteceram tornados devastadores, passagens de anos, saída de personagens importantes... E a série continua bem divertida. Eu estou bem atrasado nos episódios, mas com a experiência de quem saiu e voltou do universo irresistível da Wisteria Lane, garanto que sua natureza espirituosa mantém-se inabalável. Claro, que nestes anos todos (a série é de 2004) já demonstrou cansaço e, muitas vezes, incongruência narrativa. Mas é inegável sua incrível capacidade de se reinventar, principalmente pela estabilidade cênica de seu quarteto de protagonistas, que são acima de qualquer nota. Assim como a química adquirida ao longo dos anos. Esta promo é deliciosa, e ainda dá uma palhinha da esperada participação da atriz Vanessa Willians (destaque em "Ugly Betty"), que espero, venha para ficar.
Por isso que essa "novelinha" americana nunca sai da minha rota de visão na TV.

Dica de Música: "Saúde" (Rita Lee)

Ausência de Shyamalan...

O cineasta M. Night Shyamalan se escora atualmente entre duas correntes no mainstream do cinema americano: de um lado, os que o vêem com uma farsa, e acompanham sua derrocada filme após filme depois de subestimado "Corpo Fechado"; de outro, àqueles que acreditam no seu talento (alguns, até na sua genialidade) e sempre esperam que seus próximos filmes reflitam um brilho do passado e não os equívocos de um até então presente, leia-se, "Fim dos tempos". Com seu mais novo e aguardado filme "O último mestre do ar", Shyamalan fica no W. O., ou seja, diante da expectativa desses dois grupos, ele simplesmente não apareceu para ser avaliado... Explico: o filme é ok, bem mediano, acho até que as pesadas críticas são bem exageradas (a imprensa americana o considerou o pior filme do ano até agora) mas é o menos Shyamalan de todos os seus filmes. Nem o anterior (bem ruizinho por sinal) era tão impessoal quanto esta adaptação de um famoso desenho da TV, "Avatar: The Last Airbender" . Confesso que assistindo ao filme fiquei até interessado em ver esse desenho, uma vez que sua premissa é até interessante, pois trata-se de um mitologia cujo o universo é formado pelos quatros elementos: fogo, terra, ar e água. A trama do filme se desenrola quando quando dois jovens da tribo da água encontram Aang, um excelente dominador do ar, e acabam por descobrir que se trata do único dominador dos quatro elementos. O diretor, que também assina o roteiro, parece mais entusiasmado com a história do que necessáriamente apto a adaptá-la. Para a grande maioria dos leigos do desenho, o roteiro revela-se confuso e prolíxo. E o elenco também não ajuda. O ator mirim Nohah Ringer, que dá vida ao papel principal e primordial do filme é fraco demais, comprometendo a já difícil assimilação daquele universo. Por mais que Shyamalan ainda mantenha certo apuro visual, é gritante a falta de uma centralizada no contexto espacial de seu filme. Parece que ao adaptar um texto que não é o seu, ele deixa a reverência falar mais alto que a criatividade.
Repito: não é o pior filme do mundo, nem o pior de M. Night Shyamalan, apenas um filme em que um até então talentoso diretor preferiu não se arriscar. Está aí o grande pecado do resultado final.

Dica de filme: "Lift me up" (Christina Aguilera)