segunda-feira, 12 de abril de 2010

A vida é bela?

Existem diversas teorias sobre a real função da arte na vida. Por mais que esse questionamento não se sustente numa análise mais panorâmica, tenho uma pequena noção dessa resposta ao perceber que a arte em si, tem certo poder de fazer com que compreendamos o mundo. O de ontem e o de hoje.Tive o prazer de assistir ao premiado filme do diretor alemão Michael Haneke (“A professora de piano” e “Cachê”) “A fita branca”, e obtive um esclarecimento bem profundo dessa relação que arte estabelece com a (percepção de) vida. Haneke é um diretor que analisa a condição humana sob perspectivas amplamente pessimistas, o que faz de seus filmes verdadeiros estudos sobre a desmistificação social. “Violência gratuita” é o seu exemplo mais radical, ainda que no já citado “A professora de piano” esse paradigma de Haneke tenha encontrado sua forma mais verossímil de se expor.“A fita branca” aborda, com uma fotografia um tanto niilista, uma série de incidentes violentos que ocorrem num lugarejo, afetando, de diversas formas, a vida do lugar. O argumento é bem parecido com a obra-prima de M. Night Shyamalan “A vila” (2004), mas é apenas uma coincidência de metáforas, ainda que ambos sejam absurdamente eficientes em seus discursos. Enquanto vão acorrendo atrocidades no lugar, um personagem investiga não só as fatalidades vigentes como as possíveis co-relações que isso tenha com o meio social, o que ele acaba percebendo de forma bem cruel. O mais interessante é que o roteiro, escrito pelo próprio diretor, amplia sua investigação para além do que vemos: o filme se passa na Alemanha prestes a eclodir na Primeira Guerra Mundial, e como expõe seus verdadeiros matizes ideológicos sob os olhares das crianças do vilarejo (aliás, que atores são aquelas crianças? São interpretações arrepiantes) entendemos que a gênese do raciocínio social alemão do pós-Guerra é tão importante quanto as verdadeiras razões de suas conseqüências. Leia-se: o Holocausto foi corroborado por aquela geração precocemente reprimida e humanamente obtusa. Michael Haneke, mais uma vez, revela-se um maestro da falta de concessões em sua obra. Essa forma de radicalismo é preponderante para a perpetuação de seu trabalho e, talvez, seja a ferramenta maior para a reflexão que nos toma de assalto ao final do longa. A arte aqui, não quer apenas imitar a vida. Ela quer também fazer seu juízo de valor.
Dica de Música: “Mother” (Era)

Nenhum comentário: