Já assistiu a um filme que, em seu fim, você é tomado por um sentimento de inadequação? Não auto-inadequação, mas sim do filme que acabou de assistir? Pois foi essa a minha sensação durante quase toda a projeção do esperado filme “Budapeste” de Walter Carvalho, baseado no livro homônimo de Chico Buarque.
Já tinha lido o livro há algum tempo. Aliás, esse livro foi minha estréia na prosa personalista de Chico Buarque e confesso que não fui, assim por dizer, plenamente seduzido. Creio que deva ter tido algum ruído nessa minha conexão com ele. Não contesto a qualidade da história – Chico mostra-se extremamente sensível ao tratar da solidão acompanhada de um homem – mas algo ali não me pegou, não me persuadiu por inteiro. Por isso, já imaginava que uma transposição para o cinema seria difícil, ainda que esperasse que na telona a história ganhasse nova dimensão (não é essa a idéia?) e simpatia de minha parte. Carvalho, que é um renomado diretor de fotografia, fez uma adaptação, esteticamente esplêndida, onde parece ter tratado das belas imagens, tanto do Rio quanto da tal Budapeste, com um esmero cirúrgico. Mas ao optar por uma fidelidade irrestrita a estrutura original, transformou seu filme num recorte frio da trama do livro. A (incômoda) impressão é de que o universo criado no livro não encontrou adequação no cinema, e nem evoluiu para uma sinergia própria (já que defendo a independência das adaptações a cada gênero, mas quando nem isso ocorre o ideário da matriz sempre se fará mais forte). Na adaptação anterior de um livro de Chico “Benjamim”, a diretora Monique Gardenberg fez um filme irregular, mas dentro de um universo impetrado por ela.
Apesar de trabalhar com um elenco muito bom – Leonardo Medeiros sempre funciona e Giovana Antonelli é sublime – o filme se ressente de uma personalidade que o atribua vida. E não culpo aqui o fato do filme trabalhar sobra a ótica da metalinguagem, afinal, Michel Gondry alia muito bem essa retórica em seus filmes, mas é inegável que a cada fotograma dos conflitos de “Kósta” na trama sentimos a falta de consistência daquilo que se ambiciona. Walter Carvalho é um diretor experiente e seu trabalho fotográfico é impressionante (“Abril despedaçado e ”Lavoura arcaica” são referências definitivas), porém, na complexidade de uma direção, essa genialidade ainda promete mais do cumpre.
Já tinha lido o livro há algum tempo. Aliás, esse livro foi minha estréia na prosa personalista de Chico Buarque e confesso que não fui, assim por dizer, plenamente seduzido. Creio que deva ter tido algum ruído nessa minha conexão com ele. Não contesto a qualidade da história – Chico mostra-se extremamente sensível ao tratar da solidão acompanhada de um homem – mas algo ali não me pegou, não me persuadiu por inteiro. Por isso, já imaginava que uma transposição para o cinema seria difícil, ainda que esperasse que na telona a história ganhasse nova dimensão (não é essa a idéia?) e simpatia de minha parte. Carvalho, que é um renomado diretor de fotografia, fez uma adaptação, esteticamente esplêndida, onde parece ter tratado das belas imagens, tanto do Rio quanto da tal Budapeste, com um esmero cirúrgico. Mas ao optar por uma fidelidade irrestrita a estrutura original, transformou seu filme num recorte frio da trama do livro. A (incômoda) impressão é de que o universo criado no livro não encontrou adequação no cinema, e nem evoluiu para uma sinergia própria (já que defendo a independência das adaptações a cada gênero, mas quando nem isso ocorre o ideário da matriz sempre se fará mais forte). Na adaptação anterior de um livro de Chico “Benjamim”, a diretora Monique Gardenberg fez um filme irregular, mas dentro de um universo impetrado por ela.
Apesar de trabalhar com um elenco muito bom – Leonardo Medeiros sempre funciona e Giovana Antonelli é sublime – o filme se ressente de uma personalidade que o atribua vida. E não culpo aqui o fato do filme trabalhar sobra a ótica da metalinguagem, afinal, Michel Gondry alia muito bem essa retórica em seus filmes, mas é inegável que a cada fotograma dos conflitos de “Kósta” na trama sentimos a falta de consistência daquilo que se ambiciona. Walter Carvalho é um diretor experiente e seu trabalho fotográfico é impressionante (“Abril despedaçado e ”Lavoura arcaica” são referências definitivas), porém, na complexidade de uma direção, essa genialidade ainda promete mais do cumpre.
Dica de Música: "Eu só sei amar assim" (Zizi Possi)
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